ERGO PROXY
Tem bastante tempo em que eu tenho vontade de falar sobre Ergo Proxy. Porque eu acho que todo mundo devia dar uma chance a esse anime, por ele ser simplesmente incrível. Ele está na Netflix, e infelizmente não tem uma dublagem em português. Mas ambas em japonês e inglês são muito boas.
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Resenha
Ergo Proxy é um anime de ficção cientifica e suspense, lançado em 2006, produzido pelo estúdio Manglobe (Samurai Champloo, Deadman Wonderland, etc.). Seu diretor é Shūkō Murase, que trabalhou na franquia Gundam e em muitos outros animes, como Street Fighter II O Filme Animado e Blade Runner: Black Out 2022. A história se passa num mundo pós desastre ambiental. Nesse mundo existe uma cidade futurista, onde as pessoas vivem ao lado de androides chamados AutoReivs que os ajudam em exercer suas funções na sociedade. Porem, um vírus (chamado Cogito) começa a afetar esses androides e fazer com que eles despertem a autoconsciência e uma estranha criatura chamada Proxy escapa do laboratório da cidade. A partir dessa premissa, o anime começa.
Ergo Proxy "chegou" de uma forma incomum para a maioria dos animes, ele é original, ou seja, não é baseado em nenhum mangá ou novel. Outro aspecto que vai definir bastante o anime é a filosofia. Desde já, ela está presente no título e no nome do vírus: Ergo (portanto) e Cogito (penso), fazendo um quebra-cabeça com a frase de René descartes "Cogito Ergo Sum", "Penso, logo (ou portanto) existo". Ao decorrer do anime, vários personagens vão se deparar com esse questionamento. O que leva ao próximo, por que existo? (raison d'être) Ergo Proxy explora ao máximo essa questão.
Além dos indagamentos dos próprios personagens, o anime desperta também diversos em quem assiste. No primeiro episódio parece ser um Cyberpunk onde a protagonista luta contra robôs. Tudo muda com o despertar do Proxy. O que é um Proxy? E de repente aparece um segundo Proxy lutando contra o primeiro. E por que Re-l chora ao entrar em contato com a criatura? Bem, você não vai saber. Apenas se juntar os pedaços ao longo da serie.
Enquanto assistia, imaginei se o Proxies não seriam humanos modificados para serem usados como arma, humanos que foram afetados pelo cataclismo, ou até deuses. Ou algo parecido. Mas na verdade não. É aqui que está uma das genialidades do anime, é preciso prestar atenção aos detalhes.
Por conta disso, Ergo Proxy é totalmente diferente dos outros animes. Ele é uma grande imersão. Como num romance policial, e ao lado dos protagonistas, é você quem está investigando. – Uma coisa interessante, é que Re-l durante todo o tempo quer saber a origem de Vincent e se e por quê ele é um Proxy. Mas no final, a resposta diz bastante sobre ela mesma.
Mudando de ponto para a arte, o estilo é bem moderno para o ano em que foi lançado. Optando por cores frias (principalmente após deixar Romdo). As cores frias denotam a falta de vida no mundo. Também a falta de "vida" nos personagens. Pra exemplificar isso, basta observar Pino. Que é uma androide, mas a personagem com mais cores e vida do anime. Ela age realmente como uma criança humana, pura e tentando ser feliz, apesar do contraste com aquele mundo. Essa alusão é perceptível também em Re-l, que apesar de ter uma personalidade forte, ela mal sabe quem é. Sua maquiagem (que se assemelha a de Amy Lee em um álbum) apenas a torna gélida e vazia. Quanto a Vincent, seu rosto diz mais que sua roupa. Suas expressões vão de tolo à ingênuo, no inicio do anime, mas vão mudando ao decorrer e também obtendo um aspecto angustiante. E Iggy, o fiel AutoReiv de Re-l, ao lado de Pino, tem fortes características humanas, mesmo não tendo nenhuma expressão facial.
Sobre as movimentações e lutas, o anime é bem fluído. Mesmo não tendo em grande parte cenas de combate, elas são bem feitas. Por exemplo, as cenas de Re-l perseguindo o AutoReiv infectado, ou as lutas entre os Proxies.
Quanto a trilha sonora, ela acompanha a qualidade visual da obra. Em parte, elas garantem a imersão. Desde a abertura, com a musica Kiri (da banda Monoral), que causa orgasmos audiovisuais (traduzindo: é emocionante). E a letra revela bastante sobre as verdades ocultas do anime.
Portanto, é um prato cheio pra quem quer assistir um anime recheado de mistérios. A minha única queixa é o ritmo acelerado dos últimos episódios. Mas o finalzinho é ótimo, deixando aquela pergunta: E o que vai acontece? (mas infelizmente a gente não vai saber, porque o anime não tem continuação, esse é o final)
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Análise com Spoilers
Depois de terminar o anime fica a pergunta: Quem são os criadores? Nada mais, nada menos, que os humanos que escaparam para o espaço quando o cataclismo aconteceu. Eles retornam porque seu plano já se "concretizou". E qual era o plano deles e o papel de cada personagem:
Proxies: São a chave pra que tudo funcionasse. Eles foram criados para governar e manter funcionando os domos até que os criadores retornassem. E ele são cruciais pra que os "humanos dos domos" continuassem nascendo e habitando. Mas isso acabou dando errado, em partes, porque com o tempo os Proxies passaram a se tornar cada vez mais humanos. E sentirem abandonados, sozinhos, e traídos (porque iriam morrer após o pulso do despertar) por isso que alguns deles passaram a viver como parceiros, por causa da solidão, outros enlouqueceram e muitos se mataram.
Humanos: Existem para povoar os domos e preparar tudo para o retorno dos criadores. Eles são "incompletos", pois não conseguem se reproduzir. O que aconteceu em Romdo foi a consequência da ausência de um Proxy , porque eles precisam de um para prosperar.
AutoReivs: Eles também possuem o mesmo objetivo dos humanos, que é habitar e preparar os domos. E também servir aos Proxies.
Esse plano acabou não funcionando totalmente, porque Proxy One manipula todos os eventos do anime pra se vingar dos criadores. E no final, dois Proxies sobrevivem ao pulso do despertar: Ergo Proxy, Vincent, que na verdade foi criado a partir do One e Monad Proxy, na forma de Re-l que também é uma espécie de clone de Monad.
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Falando agora dos protagonistas, é interessante que, mesmo Vincent não possuindo sua memoria de quando era o Ergo Proxy e Re-l não sabendo que é clone de Monad, os dois retornam a ser atraídos um pelo outro. Porque anteriormente os dois Proxies eram amantes.
E enquanto assistimos, nós nem suspeitamos que um dia Vincent já foi o Proxy governante de Romdo. Isto é revelado durante os sonhos do protagonista. Ou seja, se passam muito tempo desde esse período até o Vincent atual sem memórias (ele havia optado por apagar as próprias memórias, por isso ele mata sem querer Monad, pois não sabia quem ela era). O "avô" de Re-l tenta de várias maneiras criar ou trazer um novo Proxy para Romdo, assim ela nasce.
Ergo aparecendo para Donov Mayer |
Outra coisa muito interessante a observar é a devoção e a divindade dos personagens. Para os humanos imperfeitos e os robôs, os Proxies são deuses. Por isso o avô de Re-l adorava Ergo. E também por isso alguns AutoReivs reagem com gesto de oração na presença de Ergo ou Monad.
No final do anime, quando as naves dos criadores estão chegando à Terra, fica uma ponta pra uma possível continuação. Porque fica a pergunta, o que acontece agora?
Na minha opinião, no último minuto em que foca nos olhos de Vincent, fica claro que ele vai dar continuidade a vingança de One. Ou talvez não.
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