BARBA AZUL

 

art by Gustave Dore

 Também de Charles Perrault, Barba Azul conta a história de um sujeito muito rico, mas que não conseguia casar-se por ter barba azul e assustar as moças. E ninguém sabia o paradeiro das antigas esposas dele. Numa dessas vezes, pediu a mão de uma das duas belas filhas de um dama que vivia na região. As moças negaram mas, após o sujeito convida-las para festa em sua casa de campo, uma delas acabou achando-o um homem bom. Após o casamento, eles vão viver juntos em seu palácio. Após algum tempo, Barba Azul precisou sair para resolver negócios em outras províncias, e deixou a esposa na administração da casa. Deu-lhe as chaves das salas e quartos. Somente um ela foi proibida de abrir por Barba Azul, sob pena de sofrer de sua ira!

 Durante um festa, enquanto seu marido ainda estava fora, a moça mostrou aos visitantes as incríveis salas e espaços do belo palácio. Porém, por dentro, ela não aguentava de curiosidade para descobrir o que havia na sala proibida. Ela desceu as escadas, abandonando a presença dos convidados, e abriu a porta. Depois de tentar enxergar o que havia dentro, ela foi tomada pelo espanto, dentro haviam corpos desmembrados das esposas de Barba Azul!

 Ela não teve tempo de tentar se tranquilizar, pois, seu marido estava chegando naquela noite. Tentou por diversas vezes limpar o sangue que caiu na chave quando entrou no quarto, mas de nada adiantou. Já na presença do marido, disse ter perdido as chaves. Ela tentou esquivar-se muitas vezes, até que não podia mais remediar. Ao entregar as chaves, Barba Azul perguntou o porque da chave estar manchada de sangue. E logo deduziu onde ela havia ido. Barba Azul declarou sua sentença, e a esposa, aos prantos, pediu que lhe perdoasse ou pelo menos desse tempo para que ela orasse. Ele cedeu-lhe um curto tempo, e ela procurou pela irmã e pediu-lhe que olhasse, no alto da torre, se alguém estaria chegando que pudesse ajuda-la. Após os urros de Barba Azul, a jovem desceu as escadas, enquanto sua irmã gritou que havia visto dois rapazes chegando à cavalo. Barba Azul agarrou seu cabelo com uma mão e desembainhou uma espada com a a outra, pronto a mata-la. Nesse momento chegaram os dois irmãos das duas damas, um era um cavaleiro dragão e o outro um mosqueteiro, e arrombaram a porta. Os dois rapidamente libertaram a irmã e mataram seu algoz. 

art by Walter Crane


 Após a morte do perverso, a dama transtornada deixou-se cair no abraço dos irmãos. Mais tarde foi descoberto que Barba Azul não havia deixado herdeiros e toda a sua fortuna ficou para a mulher. Com o dinheiro ela ajudou a irmã a casar-se com um fidalgo, dividiu-o também com os irmão por terem a salvo, e o restante usou para se casar com um homem bom que a ajudou a banir as terríveis memórias do seu tempo ao lado de Barba Azul.

 Acabei reescrevendo o conto, reduzindo algumas palavras, deixando-o um pouco menor. É porque a maioria das pessoas não conhecem. Eu já tinha ouvido falar, mas também nunca havia lido. Numa noite, antes de dormir, o li. Olha... Perrault podia ganhar a vida escrevendo contos de horror a lá Allan Poe. Esse, diferente de Chapeuzinho, é um conto direcionado a um público mais velho. Sobre sua origem, assim como Chapeuzinho, não é totalmente tirado da cabeça de Perrault, na verdade é apenas a sua versão. O conto tem muitas versões, em algumas o marido é um demônio disfarçado e a esposa usa da astúcia para tira-lo de tempo. Noutra ele é um tal Mr. Fox (senhor raposa). Versões na qual é um mago disfarçado chamado Nariz Prateado, etc. Essas características, desfiguração de alguma parte do corpo, o passado misterioso, são elementos das chamadas baladas de amantes demoníacos. Perrault teria se inspirado nelas para criar Barba Azul. Também existem muitas analises sobre esse conto, muitos pontos de vista sobre o que ele representa fora da fantasia. Não vou comentar essa parte, que não é o foco do post, mas você pode ler no site onde pesquisei sobre a origem do conto: Myth & Moor

 Apesar do conto em si não ser tão conhecido atualmente, ele está bastante vivo na cultura pop. A Bela e a Fera, por exemplo, possui alguns conceitos. O aposento proibido da fera. Apesar de que, as duas histórias são contrárias: a Fera é alguém internamente bom, apesar da superfície monstruosa, enquanto Barba Azul (assim como o Lobo da Chapeuzinho) parece ser alguém confiável, mas é um assassino. Também está presentes na cinematografia, como em Janela Indiscreta, Paranoia, etc. Na verdade, podemos dizer que o Barba Azul foi um dos primeiros serial killers da cultura pop! Cheguei também a achar muitas semelhanças com o Drácula, principalmente nos diários de Harker. 

   Ainda acho que essa história daria um ótimo livro, um romance, ou um filme. Dando profundidade à história (na verdade, existe um filme muito parecido mesmo, A Colina Escarlate). Misturando horror e suspense. Poderia ser atual ou de época mesmo, numa Inglaterra vitoriana ou na França. Enfim, eu achei um conto bastante interessante, capaz de arrepiar até os dias de hoje.

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