JUIZ DREDD - REALMENTE EXISTE JUSTIÇA?



 Com o evento que aconteceu em Brasília, a falha policial em impedir que os golpistas invadissem a Praça dos Três Poderes, me peguei pensando sobre a justiça na sociedade de Juiz Dredd. Isso porque, eu estava questionando o sistema policial brasileiro, ou melhor, os policiais. Mas voltando para Dredd, os EUA em 2000 A.D. após  um desastre causado por guerras e corrupção, está sob domínio dos juízes (uma força policial/jurídica que, além de comandar o país, patrulha as ruas e realiza prisões e processos judiciais instantaneamente, decidindo a pena do julgado). A questão que quero tratar, pra quem já leu sabe, mas quero fazer uma reflexão sobre, é justamente sobre esse método de justiça e policiamento. Os juízes de Mega-City One são eficazes? 


Mega-City One


 Começando por quem são os juízes: eles foram criados e treinados pelo primeiro juiz, Fargo. Os primeiros juízes que assumiram foram outros como Fargo que compartilhavam de suas ideias. Os novos juízes (podemos chamar até de segunda geração) foram feitos para serem perfeitos, em todos os aspectos, incorruptíveis (essa palavra é até engraçada, por causa de um certo político). Eles seriam clones da primeira geração, criados dentro da academia para aprender as leis, técnicas e métodos. Começando a trabalhar nas ruas até como crianças, como é o caso de Dredd e Rico, os clones de Fargo. Portanto, parecia o meio perfeito de manter a ordem nos EUA tomado pelo crime.

 Mas a história não é bem assim. Já entra um pouco de Foucault: esse policial, esse juiz, o Dredd por exemplo, ele assume o papel de juiz e júri. Ele decide, baseado na lei e na gravidade do crime e da periculosidade do marginal, se ele deve ser preso ou morto. Sendo assim, ele decide quem vive e quem morre. No mundo real, os agente judiciários são seres humanos. No caso de Dredd, apesar de biologicamente ele ser um, socialmente e psicologicamente, ele está totalmente afastado de um ser humano. Ele pode ser uma ferramenta perfeita de lutar, combater e matar, mas um julgamento é efetivado por seres humanos (tendo em vista a habilidade de compreender e estudar o outro e o seu crime). Dessa forma, Dredd não se enxerga como ser humano e também não enxerga o criminoso como um. Dredd é a criação de um sistema que docilizou seu corpo, tirando sua humanidade, fazendo-o ser como uma máquina (apesar disso, muitos juízes apresentam características humanas, não sendo o caso com Dredd que é o juiz ideal).

 Me veio a mente até um texto de Clarice Lispector que li essa semana, do período que ela cursava a faculdade de Direito, sobre a Justiça, a reincidência dos crimes etc. que podia até entrar no texto, mas vou apenas citar: é uma crítica ao sistema judiciário brasileiro, que não impede a reincidência dos crimes. E uma frase dela que encaixa perfeitamente no parágrafo anterior: " (...) o Direito Penal move com coisas humanas por excelência. Só se pode estudá-lo, pois, humanamente." Isso após um colega criticar seu texto como "sentimental". Pois, para ela, o sistema penal se interessava apenas em punir os crimes e não em resolvê-los, resolver o problema do surgimento de tais crimes.

 Mas voltando novamente à Dredd, agora falando sobre a corrupção e o incorruptível. Abordando o primeiro juiz Fargo. Fargo estabeleceu que os juízes não teriam vida privada. Não poderiam se relacionar afetivamente para que não afetasse seu juízo. E esse foi o crime de Fargo. Ou seja, para que o juiz fosse perfeito, ele teria que se afastar de desejos e instintos humanos. Dredd foi criado para resistir a esses instintos. Conduto, essa doutrina não se mostrou totalmente eficaz. Rico, seu irmão, tornou-se corrupto, foi preso e voltou da prisão por vingança. 

  Portanto, o sistema do universo de 2000 A. D. tá longe de funcionar e ser o correto. Foram ações e reações. A reação de Fargo foi criar os juízes, contudo, eles também reagiram a esse mundo destruído pela guerra (como também a sua falta de liberdade e ao sistema a qual estão impostos), assim como a população e os marginais ao mundo e aos juízes. (esse tipo de conflito também ocorre nas hqs de transformers da IDW, na qual, a reação dos cidadãos aos autobots é tornarem-se deceptcons. Mas deixa isso pra outro post)

 Quanto ao nosso sistema policial, que eu comentei no início do texto, também precisa melhorar muito. O que aconteceu em Brasília foi um exemplo gritante do conflito de interesses dentro da polícia (para não dizer de outro modo: corruptos, despreparados e sujos). Isto porque, policiais foram coniventes com a invasão e tinham até policiais participando também. 

 Por fim, espero não ter divagado muito, as hqs do Dredd são incríveis. Os personagens, os trajes, as armas, são demais. Tem até crossovers com personagens da DC também. Eu ainda não li tantas hqs desse universo, mas recomendo pra quem quer começar a ler, Juiz Dredd origens. É a melhor, na minha opinião, e ela explica tanto a história do universo da hq como também a de Dredd.  


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